Nestes desalmados tempos
em que as mães não mais ensinam
a canção de Inanna a suas filhas,
em que os pais não mais ensinam seus filhos
a merecer a mão e o mel de suas noivas;
Nestes tempos em que esquecidos
ficaram os caminhos desde o Eufrates,
as obras dos velhos babilónios,
o sentido dos caminhantes,
e da sublimação, sob as areias;
Nestes desalmados tempos
de feiura e desencanto;
de ávida escravidão tecnológica,
de mentes errantes, sem âncoras
e de corações arrefecidos, comatosos;
Perdidos entre novos zigurates,
nas desalmadas ruas das metrópoles;
nos resta sobreviver, sem redenção,
desalmados contra desalmados,
consumidos até à exaustão,
até a uma derradeira extinção.
Como os dos tempos primeiros,
se recordarmos as doces palavras,
(porque tudo é poema, meu amor)
o sabor do mel nos nossos lábios...
Pois ainda que contagiado pela tristeza,
reservo mão cálida e romântica
para se unir à tua,
para nos unirmos.